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Os Conceitos-Paradigmas para as Artes Integradas

A compreensão destes paradigmas é essencial para a realização da integração dos conhecimentos. Em um processo interdisciplinar é necessário ‘olhar’ o fenômeno sob múltiplas perspectivas, o que vai alterar a forma como habitualmente conceituamos, sendo uma lógica que imprime a invenção, a descoberta, a pesquisa, a produção científica, porém concebida num ato de vontade, num desejo planejado e construído em liberdade.

Os conceitos-paradigmas são: a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade, a multidimensionalidade, a multirreferencialidade, o pensamento complexo e sistêmico e a integração. 

Interdisciplinaridade: inter, é o que está ‘entre’ as disciplinas, é a relação entre duas ou mais disciplinas em que os pontos de contatos, aquilo (conhecimento, conceito, conteúdo, método, técnica, entre outros) que interligam as disciplinas, alargando as fronteiras disciplinares, na maioria das vezes, fazendo surgir um novo conhecimento ou disciplina. Ex.: Educação + Música = Educação Musical.

Compreendemos também a interdisciplinaridade por duas perspectivas: pelo olhar de Ivani Fazenda (2001), a interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de uma atitude de abertura à compreensão de aspectos ocultos e dos aparentemente expressos do ato de aprender, colocando-os em questão. E pelo olhar de Japiassu (1976), “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa” (JAPIASSU, 1976, p.74).

Estes conceitos se complementam e apresentam uma relação entre pensamento e ação no ato de integrar. O primeiro, apresenta a perspectiva de olhar o mundo em conexão, os conhecimentos interligados. Essa nova atitude diante do conhecimento está relacionada à percepção de ‘enxergar’ a interligação dos saberes. Então, diz respeito ao meu olhar ao lidar com o conhecimento, como aprendo e como ensino, ver as conexões.

O segundo, diz respeito à ação a partir de meu pensamento/olhar. Integrar é ação e predispõe equidade entre as áreas e relação com um outro conhecimento e especialista. Nessa relação, existem as trocas que se apresentam em maior ou menor grau de integração, conforme a abertura para trocas e o pensamento dos envolvidos quanto ao entendimento da interligação dos saberes. Quanto maior o entendimento e abertura, maior será o aprofundamento das relações. 

Transdisciplinaridade: trans, se define como sendo o que é o que está ao mesmo tempo “entre”, “através” e “além” das diferentes disciplinas. Conhecido como o sétimo saber, é o responsável pela criação das conexões, redes, por ações dialógicas, pelo rompimento com a territorialização do conhecimento e formação do pensamento sistêmico, onde o todo se relaciona com as partes.

Há uma diferença entre a pesquisa ou prática disciplinar e transdisciplinar. A pesquisa ou prática disciplinar é perceptível, no máximo, a um único e mesmo nível de realidade, ou ainda, os seus fragmentos. Já a pesquisa ou prática transdisciplinar se preocupa com a dinâmica gerada pela ação de vários níveis de realidade ao mesmo tempo, enfocando sempre a compreensão do tempo presente. Nesta dinâmica a unidade que liga todos os níveis de realidade, se existir, deve ser uma unidade aberta. Para tanto, é preciso considerar que esses níveis se prolonguem para uma zona de não-resistência à nossas experiências, descrições e imagens (FARIA, 2009). 


Multidimensional e multirreferencial: existem dois diferentes níveis de percepção da realidade pelo sujeito observador, sendo ela uma realidade multidimensional e multirreferencial, que confirma e possibilita ao homem reencontrar seu lugar, que é a percepção de sua existência e sua verticalidade, ou seja, sujeito que é e carrega várias funções, vários sentidos para sua existência. Desta forma, o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional, sendo que a sociedade tem dimensão histórica, econômica, sociológica, religiosa dentre outras. Isso permite o entendimento da complexidade nas diversas dimensões e ressaltamos que o olhar esteja direcionado para as relações entre os vários níveis de realidade e percepções. Assim, ao entendemos as diferentes dimensões e a realidade do mundo atual globalizado, abre-se um campo para o pensar na complexidade compreendendo o conhecimento em conexões, gerando teias ou redes que vão se ligando e interligando, permitindo o alcance da incerteza e da criatividade (FARIA, 2009, p. 41).


Pensamento Complexo e Sistêmico: Tratar do termo complexidade como base de percepção do mundo na estrutura do pensar fortifica e intensifica os diálogos necessários para relacionar-se com o conhecimento. Por meio da dimensão complexa se vê o mundo de forma sistêmica, como algo orgânico indissociável e que também propõe uma abordagem transdisciplinar para a construção do conhecimento. Tal abordagem vê o homem e a sociedade como multidimensionais, ou seja, unidades complexas. Pressupõe a reforma do pensamento, que é a paradigmática, necessitando do abandono do cartesianismo e a busca de uma nova forma de pensar, alinhada à complexidade, multidimensionalidade e multirreferencialidade, que estão no presente século. O olhar complexo e sistêmico deve entrar em ação, ele é, ao mesmo tempo, o que vê e analisa buscando observar além, gerando associações, conexões, relações, inter-relações, interconectividades. Esses termos abrangem relações não lineares, mas que fazem surgir um emaranhado de interações, ou ainda, o conceito de rede: é aquilo que é tecido em conjunto, quase ao mesmo tempo. Entendemos que a partir disso, a educação deve promover a capacidade de construção do conhecimento frente a frente com a capacidade de interpretação de mundo no qual o indivíduo se encontra. Isto o instiga a conhecer a amplitude do mundo. Em consequência, a educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e, principalmente, resolver os problemas essenciais que fazem parte do homem (FARIA, 2009, 42). 

Integração: a integração engloba a ação em si, é a prática, é o contato com o outro, com o conhecimento e a outra pessoa. Pressupõe uma relação de equidade, onde nenhum conhecimento é melhor ou maior que o outro. Quando há hierarquização de conhecimentos não há integração, porque um fica a serviço do outro. A integração inclui ações colaborativas como: conversas, planejamentos, pesquisas, a prática pedagógica, as revisões do trajeto, prática e objetivos, inclui também as trocas e outras ações que colaboram com o processo. A integração promove a possiblidade de fazer novas associações, sem medo do erro, permitir criar novos caminhos antes não percorridos e criar soluções inovadoras. Integrar, pressupõe também que os professores estarão atuando dentro dos vários níveis de realidade e dos vários níveis de percepção, possibilitando encontrar muitos caminhos para um mesmo problema. 

Um ponto muito importante: para as Artes Integradas, o eixo norteador é a Arte, ela promove a pesquisa, diálogos com outras áreas, suscita questões e conhecimentos a serem trabalhados, promove a sensibilidade e o olhar para além do processo proposto. Para que isso aconteça, o pensamento (olhar) e ação do professor precisam estar alinhados com estes conceitos apresentados. É uma mudança de como lidar com o conhecimento, como se aprende e como se ensina.

Entendemos que a integração entre conhecimento e a vivências estre os sujeitos participantes só acontece quando o olhar é ampliado e quando as reflexões e conexões são multirreferenciais e multidimensionais, incluindo em nossa reflexão a questão da condição e existência humana. Pensamos a educação numa concepção transformadora, que possibilita ao indivíduo mudar sua realidade contribuindo para uma transformação social. Nesse ponto destacamos a importância e também a necessidade de os sujeitos alcançarem novas etapas em sua formação como indivíduo, não ficando estagnado em seus trajetos do pensar, evitando que o senso comum guie seus parâmetros. 

Enquanto educadores, é necessário utilizarmos a crítica e a construção de parâmetros para que exista um alicerce e coerência na formação do educando. É importante fazermos propostas que envolvam a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade como unidades essenciais para que aconteça uma prática onde o conhecimento seja verticalizado (espiral) e consciente, perpassando pelas diferentes realidades dos educandos. Importa que encontremos a responsabilidade na orientação coerente, atuando como educadores que entendem o valor do ser humano e que acreditam que o conhecimento transforma e alarga fronteiras trazendo o indivíduo ao conhecimento do próximo e de si mesmo. Tal conhecimento prepara o indivíduo para o estreitamento das relações e para as diversas possibilidades que a vida apresenta (FARIA, 2009, p. 43-44).


Para mais informações, leia: 

FARIA, Aline Folly. Artes Integradas: características das práticas desenvolvidas em escolas de Goiânia. Goiânia, 2009. Disponível em: 

http://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tde/2716/1/Dissertacao_Mestrado_Aline_Faria.pdf  

FAZENDA, Ivani C. A. (Org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade. São Paulo, Cortez, 2001.

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.


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