• contato@artesintegradas.com.br
  • (62) 98212-9604

ARTES INTEGRADAS: Atuar para o tempo presente

RESUMO: 

O termo artes integradas foi inserido dentro do componente Arte no novo documento da BNCC (2017) sem muitas explicações, este considerou as linguagens artísticas artes visuais, dança, música e teatro como unidades temáticas do componente. Além do quarteto, há uma última unidade temática que compõe o componente Arte, ela será abordada neste artigo - são as artes integradas. O ensino de arte, infelizmente, tem apresentado uma série de limitações e desafios, em sua implantação nas escolas nos últimos setenta anos, incluindo-se a não tão recente polivalência.

Busca-se aprofundar a questão da integração no ensino brasileiro e um melhor entendimento sobre o assunto, examinando-a como um elemento importante que pode se tonar poderoso nas práticas educativas. Seja nas artes ou fora delas, a integração é uma abordagem e visão de mundo ainda a ser melhor desenvolvidos em nosso contexto educativo. As artes integradas acontecem muito timidamente há algum tempo em poucas escolas especializadas no Brasil, mas em outros países, como os EUA, possuem outro patamar, fazem parte de currículos e práticas de escolas do ensino básico. A partir desta realidade e a fim de colaborar com uma prática de integração artística coerente, este artigo objetiva-se entender a questão da integração em sua forma mais ampla e apresentar alguns elementos intrínsecos, a partir do pensamento de John Dewey que talvez possam ajudar no entendimento desta integração. 


1. INTRODUÇÃO 

As artes integradas ainda são um elemento novo na educação brasileira. Para quem as conhece, elas podem ser uma possibilidade de inovação e melhora no processo do ensino-aprendizagem dentro das escolas. As artes integradas são apresentadas no documento da BNCC sem conceitos e metodologias, com aspectos equivocados, os quais são tratados em outro artigo1 sobre o tema.

Neste artigo, foi realizada uma comparação entre conceitos de artes integradas, o que foi colocado no documento da BNCC (Brasil, 2017), comparando com os conceitos de autores que pesquisam a temática. Ressalta-se também que há um perigo sobre o entendimento de que apenas um professor irá ministrar esta integração, caindo na tão temida polivalência, sendo que o ideal é o professor de arte (qualquer linguagem artística, ou algumas envolvidas) juntamente com professores de outras áreas do conhecimento realizem o trabalho em parceria.

É importante observar que as artes integradas não tratam apenas de integrar as artes, mas de integrar arte e outros conhecimentos e até mesmo, o currículo. Por causa da BNCC, elas estão agora no contexto de nossa educação, o que é muito bom, mas sem os devidos cuidados, atenção e valor, ainda geram dúvidas, críticas e possibilidades de práticas equivocadas.

São poucas as discussões e estudos sobre elas até o momento, só para constar, há 11 anos foi realizado em nossa pesquisa de mestrado (FARIA, 2009) um estudo sobre a temática, o que é interessante notar é que nesse tempo pra cá não apareceu mais nenhuma pesquisa sobre as artes integradas. Só agora, recentemente, por causa da BNCC, começaram a surgir alguns trabalhos sobre o tema, como um artigo em um site de Pedagogia, mas que compreende a prática de integração artística como polivalência.

Assim, para a melhor compreensão do que será tratado no presente artigo, objetiva-se apresentar alguns aspectos conceituais e elementos intrínsecos, a partir de Dewey (2010), que estruturam e promovem a integração e sua efetivação. E, a partir disto, apresentar um conceito de artes integradas que condiz com a realidade brasileira e que mostre um ponto de atuação para o tempo presente, destacando que este conceito, que é amplo e não estático, vem sendo construído em nossos estudos e pesquisa, até o momento. 


2. INTEGRAR: HÁBITO OU UMA PROPOSTA? 

Primeiro, é importante destacar que integrar não é um hábito em nosso contexto educacional, além disso, nas instituições escolares os termos integração e interdisciplinaridade são pouco utilizados e quando são, muitas das vezes ocorrem de forma corriqueira e despida de qualquer embasamento teórico, ancorada na fala: ‘Vamos juntar?’. O que dificulta práticas coerentes e uma integração efetiva. No processo da arte educação, integrar pode ser considerado um processo ainda novo, mas na verdade, remonta desde a década de 70 e 80, este fato envolveu a Escolinha de Arte do Brasil e Universidade, segundo, Barbosa (1984).

No decorrer da história, é possível constatar que houve uma negação sobre a integração, inclusive pela Universidade, que talvez, pelo medo de cair na polivalência e seus equívocos, optou por dar maior ênfase na formação e ensino especializado de cada linguagem artística. Com a BNCC, a proposta de educação integral nos confronta essa conduta, sendo necessário um novo olhar para a formação de professores de arte e para o ensino de arte.

A ênfase na reformulação destes dois aspectos é de grande importância para que seja garantida a seriedade no ensino de arte voltada para a formação integral dos sujeitos, bem como, a valorização da arte como componente importante dentro da escola. 

Quando se fala sobre a educação do tempo presente, contemporânea, não é possível desvencilhá-la dos conceitos-paradigmas e, muito menos, da educação integral. A educação integral está focada na formação do sujeito como um todo, em suas várias dimensões. A arte, como uma área que por si só integra vários conhecimentos, necessita de se envolver nisso, propor inovações e relações interdisciplinares em pesquisas, diálogos e práticas, para que, inclusive, se tenha mais espaço de atuação tanto do componente, quanto dos arte educadores na escola.

No documento da BNCC (Brasil, 2017), principalmente em sua introdução, está carregado de aspectos ideológicos que agrada e favorece à classe dominante e estimula ilusões de modernização do ensino, principalmente, com a questão da ‘integração dos conhecimentos’, tentando persuadir os educadores por meio de discursos que convencem que a proposta é mesmo para a ‘glória’ da educação brasileira, convocando-os a fazerem o ‘bem’ para a educação.

É importante destacar que todo este discurso e o próprio documento esbarram na realidade crítica que se encontra a formação de professores e as próprias instituições escolares, com defasagem de espaço, recurso e apoio para as práticas educativas. Com certeza, se instala uma situação dicotômica que mostra os rumos e direcionamento da educação brasileira para a preparação de uma nova geração de mão de obra para o mercado do século XXI.

A educação integral forjada pela BNCC é uma educação que pretende formar sujeitos a partir de competências e habilidades ligadas aos interesses do empresariado e do Estado, envolvendo a preparação dos sujeitos para o mercado de trabalho. E infelizmente, é possível afirmar que este documento que direciona a criação de currículos trata a educação integral de forma ilusória e equivocada. Porque, além de outras questões apresentadas em seu texto, ele não compreende a igualdade entre os conhecimentos, mas escancara sua hierarquização, enfatiza mais determinados conhecimentos como português e matemática, o que já embarga uma educação integral eficaz, provocando a fragmentação dos conhecimentos, inviabilizando que o processo educativo perpasse pelas várias dimensões humanas e sociais. 

Assim, nesta compreensão, se os conhecimentos estão fragmentados dá a entender que a formação integral é alcançada a partir das competências e habilidades. A integração proposta no documento é bem direcionada, o professor precisa estar ciente da junção dos componentes por área de conhecimento, conhecer sobre sua área e os componentes que fazem parte, conhecer as competências e habilidades gerais e específicas, inclusive de seu componente, trabalhando tudo isso de forma interdisciplinar.

Na contramão da educação integral, mostra-se a sobrecarga do professor e a superficialidade nos processos integrativos, sem contar que não existem propostas de trabalhos em parcerias, o que é primordial. Estas questões apresentadas até aqui, juntamente com a falta de estrutura nas instituições escolares, precariedade na formação e profissionalização dos professores, confronta a realização de uma educação integral efetiva, nos mostrando que existe algo por trás do documento, a existência de interesses e manipulações de quem quer controlar a educação em nosso país.

Espera-se muito das competências, afinal, elas são a finalidade da educação básica. Os discursos que se apresentam neste documento é que a educação integral está voltada para a aprendizagem das competências e habilidades como forma de preparar o sujeito para o mercado de trabalho no século XXI. 

O ponto principal é: como tratar de forma coerente a relação e diálogos entre conhecimentos, competências, habilidades e sujeitos, trabalhando a totalidade do ser, enfatizando, realmente, as várias dimensões humanas conforme a nova realidade, a BNCC?

A Base indica e direciona conteúdos e perspectivas de como realizar a abordagem, mas se olhar com cuidado, a BNCC propõe algo complexo para nosso contexto escolar, podendo ocorrer riscos de surgirem equívocos no momento das práticas, servindo apenas um ensino para números e escrita.

A educação integral deve conceber o homem como um ser multidimensional, ou seja, abrange o físico, psicológico, cognitivo, emocional, sensível, e até espiritual, proporcionando sua experiência com o mundo por várias perspectivas e maneiras, dando-lhe consciência si no/para o mundo.

(MORIN, 2004). E para seu alcance pressupõe que as ações e o conhecimento estejam em um nível de interrelação entre conhecimentos e ações. Nesta perspectiva, e para o alcance de uma educação integral se faz necessário o envolvimento com abordagens e conceitos integradores. Sendo importante o amparo em conceito-paradigmas que permitem trafegar por diálogos e abrangências, como a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e o pensamento complexo (MORIN, 2004; FAZENDA, 2001).

A compreensão destes paradigmas é essencial para a realização da integração dos conhecimentos. Em um processo interdisciplinar é necessário ‘olhar’ o fenômeno sob múltiplas perspectivas, o que vai alterar a forma como habitualmente conceituamos, sendo uma lógica que imprime a invenção, a descoberta, a pesquisa, a produção científica, porém concebida num ato de vontade, num desejo planejado e construído em liberdade. 

3. AS ARTES INTEGRADAS: ELEMENTOS INTRÍNSECOS 

Em seus estudos, Dewey (2010) mostra que a educação ideal é aquela que acompanha as mudanças do tempo presente, compreendendo que o conhecimento é amplo e não é estático, ou seja, aquele pronto e acabado estudo sobre o passado. O conhecimento se movimenta na relação do homem com o meio, e dessa relação, se de fato for em contexto, efetiva e simbólica, surge a experiência que traz uma concretude na aprendizagem do homem.

O autor, apresenta uma construção teórico-filosófica que são estruturantes para a existência das artes integradas, elas serão destaque em nossa pesquisa do doutorado2, e aqui, serão mostrados alguns pontos importantes. São eles: a experiência, a interação e relação e os sentidos, como aspectos estruturantes para a existência das artes integradas, lembrando que os conceitos-paradigmas fazem parte de sua essência. Conforme Ramaldes e Camargo (2017), a experiência não é apenas uma ação que acontece em um determinado tempo, mas sua qualidade está em um continuum da vivência humana (p.15). Eles citam que a experiência é construída num processo que se dá na, 

(...) integração constante com as múltiplas memórias de experiências anteriores, é o passado e o presente, o conhecimento a intuição e o subjetivo em ação, interagindo no caminho das experiências futuras, produzindo então uma experiência “única”, significativa, que será memória para outras experiências (RAMALDES; CAMARGO, 2017, p.16). 

A experiência, tem um importante papel na formação dos indivíduos, por ela fazer uso da relação do presente com modos de aprendizagens passadas. É possível perceber dois movimentos inerentes no vivenciar da experiência: ela se concretiza na relação homem e mundo, mostrando que o homem se constitui no coletivo – na cultura. E na percepção do indivíduo como sujeito de uma cultura, de suas memórias, valores e significados, gerados por experiências passadas que interpenetram em novas experiências.

Eis aí quando a experiência se torna consciente, quando ela se torna significativa para o homem. Para Dewey (2010), a percepção também é importante, porque é a partir dela que se percebe as várias realidades e dimensões que se apresentam ao homem e o mundo.

O autor destaca os campos sensorial e o pensamento, e que ambos estão num relacionar nos processos da experiência e aprendizagem do mundo. O autor ressalta que tudo está interligado e que é imprescindível olhar para um objeto por diferentes perspectivas. Ora, as artes integradas aguçam a percepção, elas propõem a pesquisa, a construção, a criação e a comunicação de produtos frutos da interligação do processo que envolve diferentes pontos de vistas, conceitos, materiais, meios, entre outros.

Outra coisa, a interação com o conhecimento necessita explorar não só as relações com os conhecimentos no âmbito do pensar, limitando a experiência, mas explorar também diferentes formas de como o sujeito recebe, explora e manipula todo o processo envolvendo o sentir.

Por exemplo, trabalhar conceitos que venham a partir de determinado componente, relacionando e buscando pontos de contatos com conceitos artísticos de maneira equitativa, não hierárquica, perpassando por memórias, imaginação, sensações que explorem os sentidos, proporcionam outras formas de contato com o conhecimento. Assim, experiências com o sentir, com as sensações e sentimentos ampliam as possibilidades nas relações com o conhecimento. 

Um ponto importante, conforme Dewey (2010), existe algo que limita a experiência, são as coisas que interferem na percepção. E, se pensarmos bem, de fato, o homem possui bastante experiências limitadas em sua vida, imagine isso dentro da escola. É o movimento do tempo presente, contemporâneo, ou o homem vivencia e faz muitas coisas, em um constante fazer, ininterrupto, ou é um estado de sentir e estar sujeito com excesso de receptividade.

Estes são desequilíbrios que não são percebidos, fogem do controle e da sensibilidade humana. O excesso de atividades, além da necessidade de sentir, e sentir muitas experiências faz com que o homem sabote a real experiência, tornando-a parcial ou distorcida, a falta da percepção da consumação e do significado impede a reflexão, que é o ir e vir da continuidade do que veio antes e do que pode vir a ser.

A experiência é limitada por causa de questões que interferem na percepção, principalmente na relação entre o estar e o fazer do sujeito. Assim, no frenesi da experiência isolada e da necessidade de se vivenciar mais e mais, o indivíduo não deixa chegar à conclusão das experiências, mas começa e recomeça entre uma coisa e outra, com precipitação.

Quantas experiências têm sido vivenciadas dessa forma por estudantes e professores? Quantas interrupções por conta de cumprimento de metas, agendas, conteúdos, e quantas mais e mais precipitações vividas por fragmentações de pensamento e ações? Proporcionar a continuidade da experiência educativa é o movimento importante na formação, percepção e construção de mundo do sujeito, é o ir e vir do sujeito histórico e cultural, passado e presente, projetando o futuro.

Para uma experiência real e total, a percepção deve se voltar para os vários níveis de realidade, tendo o acesso e interesse de como o conhecimento é produzido e como ele se transforma e, principalmente, por qual meio ele é manipulado, seja por pesquisa disciplinar, aquela que se apresenta por um único nível de realidade ou transdisciplinar, que abrange e se preocupa com a dinâmica gerada por novos conceitos e ações de vários níveis de realidade ao mesmo tempo, enfocando sempre a compreensão do tempo presente.

Nesta dinâmica a unidade que liga todos os níveis de realidade, se existir, deve ser uma unidade aberta. Para tanto, é preciso considerar que esses níveis se prolonguem para uma zona de não-resistência diante de nossas experiências, descrições e imagens. A abertura para trocas, parcerias é iminente e vital, as percepções se mesclam, interagem, promove um novo/outro olhar para o mundo. Entra aqui uma questão tão séria, que atrapalha grandemente os processos de integração dos conhecimentos.

A questão do desejo. O desejo de/para abertura e pelo compartilhar e participar, faz com que os sujeitos participantes se tornam um outro, um terceiro, que não sou eu, mas aquele que se dispõe para o vir a ser. Porque é neste lugar que novos conceitos, posturas, habilidades, pensamentos, sensações surgem no processo. Infelizmente, não é algo que está presente nas pessoas de forma natural, mas é algo construído. 

Um dos propósitos das artes integradas é a ampliação da aprendizagem por meio dos sentidos, uma zona em que diferentes níveis precisam estar abertos, e sem resistência. Desejo, abertura, disponibilização dos sentidos, vivenciar, consciência e racionalidade, somente com a percepção livre e ampla é que se consegue realizar relações. Estes pontos interligados e simultâneos abrem as ‘portas’, que são os sentidos, para novas experiências. As artes integradas proporcionam um lugar com possibilidade de diferentes tipos de interações, onde a experiência caminha para a totalidade e a percepção se amplia em diferentes níveis de realidade, abarcando uma relação integral entre o campo sensorial e o pensamento. 

Dewey (2010) destaca o homem sensorial, que vive, aprende e sente o mundo por meio de várias ‘portas’. Estas, são os sentidos que absorve o mundo em sua multiplicidade que chegam até o homem por ‘veículos’. Os veículos são os mediadores, os intermediários entre homem e mundo, entre homem e arte.

São eles, os materiais, as técnicas, as formas, elementos que constituem a qualidade das obras e do que está no mundo. A compreensão deles sensibilizam, ampliam a percepção e informam e é por onde o homem interage com o mundo. Os sentidos necessitam ser direcionados e educados para o reconhecimento da aprendizagem e conhecimento, precisando ser trabalhados para que não caiam numa interação rasa com o mundo.

O autor apresenta que existem aquelas experiências que podem ser consideradas comuns, porque não há a percepção dialógica, o controle dos meios, veículos e qualidades importantes, esta experiência se apresenta em um nível comum, porque a percepção e manipulação de materiais podem ser considerados mecânicos.

Já quando há a preocupação pela interação e relações que se priorizam uma percepção dialógica e se utiliza diferentes sentidos, reconhecendo diferenciados elementos, esta experiência tem o poder de ligar, conectar as partes, perpassando por todas elas. Ela se torna uma experiência estética e seu diferencial é que a qualidade é percebida e o olhar mecânico é modificado tornando-se qualitativo, percebendo os aspectos intrínsecos aos veículos e meios, que são os mediadores entre o mundo e o homem.

Ou seja, os sujeitos não deixam de ter experiências, mas seu nível de aprofundamento das relações e significações é o grande diferencial, gerando uma mudança da forma como o sujeito vê e se relaciona com o mundo. Enquanto vemos, também ouvimos e sentimos, assim, o autor fala que quando vemos uma obra vemos não só as cores, mas as cenas, o som, sentimos pressões e percebemos o implícito. Destaca-se, a partir do autor e do exposto até aqui, que existem dois tipos de interação do homem com o mundo, influenciando diretamente as práticas integrativas. Há nos entremeios desta dinâmica uma relação entre o que está externo e o que está na essência das instâncias envolvidas, quando o homem entra em contato é criado um ritmo da contemplação.

O autor apresenta duas formas de interação e percepção, aquela que o homem percebe as instâncias e seus elementos, bem como seus limites e junções, limitando e tornando a relação em fragmentos. É chamada de mecânica, em que o homem, não consegue ver o todo, mas suas partes, o que interfere diretamente em sua experiência, não possibilitando sua interação em muitas vias. Neste caso, ter a consciência das costuras e limites, demostra a ideia de delimitação de fronteiras, fragmentação, um aspecto mecânico que distancia da profundidade das relações, retirando o aspecto orgânico que a totalidade caminha. A outra forma de interação e percepção é a orgânica, que perpassa, transpassa as fronteiras, se entremeando com/em outras instâncias.

Conforme Dewey, nesta costura só se torna integrada quando ela é orgânica, não se percebendo junções, o que há é uma diluição entre os limites dos conhecimentos, é sair da fragmentação e realizar conexões sem deixar à mostra suas fronteiras, tudo está ‘tecido junto’. A integração artística em seus aspectos mostra-se orgânica, ela é exigente no âmbito de sua prática, pois suas construções permeiam entre-lugares onde diferentes conceitos, metodologias e habilidades serão integradas na análise e prática dos objetos estudados, criando novos/outros significados, situando os sujeitos em sua experiência e aprendizagem. 

4. CONCLUSÃO 

Para atuar para o tempo presente, é necessária a mudança de hábito e visão de mundo que necessita estar conectada, percebendo os ajustes e desajustes inerentes no processo de formação do indivíduo. O conceito de artes integradas que será apresentado aqui é resultado do que foi exposto acima. Sem os conceitos-paradigmas não há como existir a integração artística, ela pressupõe para seu entendimento e prática, a necessidade da compreensão destes conceitos. Sobre os conceitos-paradigmas destacam-se a integração, a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e o pensamento complexo, além de todas as nuances que surgirem deles. Além disto, sem os elementos intrínsecos sua prática se torna mecânica, a experiência, a interação e percepção e os sentidos são elementos que precisam ser ressaltados no processo educativo de maneira consciente. Assim, diante do que foi exposto, é importante apresentar o conceito de artes integradas construído em nossa pesquisa até o momento: elas se pautam no ideário do integrar, conectar, relacionar conhecimentos, habilidades, conceitos, conteúdos e metodologias, promovendo a exploração sensorial (sentidos), experiências significativas que, necessariamente, são pautadas e direcionadas na perspectiva artística (incluindo música, teatro, dança e artes visuais), promovendo a consciência do estudante de suas aprendizagens, possibilitando-o de criar, editar, e demonstrar suas sínteses por meio de produções que se amparam através do olhar artístico. 

A partir disto, é possível afirmar que as artes integradas promovem a educação integral do estudante. Elas são uma abordagem que potencializa a atuação do professor e da escola para o tempo presente. No processo integrativo, é importante privilegiar em várias perspectivas a ideia, a pesquisa, o desenvolvimento dessa ideia, ou seja, as relações entre conhecimento, problemas e possíveis soluções, construção do conhecimento e criação de possibilidades de soluções. E o mais importante, a comunicação do produto/resultado, que é sua interação. Para atuar no tempo presente, destaca-se Dewey (2010) que ressalta “o que importa é como as coisas se relacionam” (p.318), e a arte deve ser entendida como a instância que potencializa a integração e a experiência, em totalidade. A defesa da existência de uma totalidade, composta por partes, mostra que “o que importa é como as coisas se relacionam” (idem) e como a experiência de forma integrada transforma o homem. Isto teve grande influência na construção das artes integradas, que comportam essa filosofia, o mundo e o homem são relacionais e que existe uma totalidade que sempre mostrará que as margens são ainda mais amplas, nos fazendo caminhar mais e mais. 


5. REFERÊNCIAS 

BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: conflitos e acertos. São Paulo, Editora Perspectiva, 1984. 

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular, educação é a base. Brasília, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acesso em 13-02-2019. 

DEWEY, John. Arte como Experiência. Tradução Vera Ribeiro. – São Paulo: Martins Fontes, 2010. 

FARIA, Aline Folly. Artes integradas: características das práticas desenvolvidas em escolas de Goiânia. Goiânia, 2009. 177f. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música e Artes Cênicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009. Disponível em: 

https://mestrado.emac.ufg.br/up/270/o/ALINE_FOLLY_FARIA.pdf?1337018905%20 Acesso em 20-01-2019. 

FAZENDA, Ivani (org.). Dicionário em construção: interdiscplinaridade. São Paulo, Cortez, 2001. 

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução de Eloá Jacobina. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 

RAMALDES, Karine; CAMARGO, R.C. Os jogos teatrais de Viola Spolin: uma pedagogia da experiência. Karine Ramaldes e Robson Correa de Camargo. – Goiânia: / Kelps, 2017. 

Aline Folly Faria 

Professora formadora no Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte – SEDUC / GO.