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AS ARTES INTEGRADAS - Questões entre a BNCC e a Escola

RESUMO 

O mundo da atualidade tem exigido novas formas de ver e lidar com o próprio mundo. É prevista a necessidade de novas habilidades para conseguir atender às demandas do mundo global e a reformulação de como o ensino deve ser propagado no contexto escolar. Para isso, foi proposta uma Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que indica novos conhecimentos e nova abordagem de ensino. Sendo proposto que o aluno tenha uma educação integral, uma formação interdisciplinar e um pensamento próximo ao pensamento complexo, permitindo que ele perceba os conhecimentos interligados e conectados entre si. E, principalmente, consiga relacioná-los em seus contextos variados, fazendo uso das habilidades e formas criativas de se resolver problemas.

Com base em uma pesquisa bibliográfica pretendo tratar da questão da integração na educação brasileira, colocando em destaque as Artes Integradas e a BNCC. Assim, para tentar propor algo e problematizar também, venho me arriscar com este artigo, refletindo sobre as Artes Integradas como uma proposta valorosa para educação em nosso país. Meu objetivo, é dialogar por ‘entre’ as Artes Integradas, a Interdisciplinaridade e a BNCC, esperando trazer uma discussão importante e necessária para nosso contexto escolar brasileiro.


1. INTRODUÇÃO 

Em meu doutorado, estarei tratando das Artes Integradas, buscando defendê-la como uma abordagem metodológica importante para o ensino e aprendizagem do século XXI. É uma proposta que necessita ser investigada e praticada em nosso contexto escolar de maneira coerente, pois ela exige muito mais que um simples cruzamento entre as linguagens artísticas. Há um percurso a se fazer, precisamos desvendar nosso ‘como’, nossos contextos e ‘para que’ se quer realizar a integração. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos traz as Artes Integradas, mas não nos apresenta conceitos e muito menos como realizar. 

Pretendo por meio de uma revisão bibliográfica, dar seguimento ao meu estudo de mestrado sobre a temática, e tentar estruturar um aporte teórico para dar suporte a estudos, práticas e futuras pesquisas sobre o assunto. Por ser uma abordagem que vislumbra a formação integral dos indivíduos, é muito importante seu estudo para evitar ações equivocadas. Este é o desafio em meu doutoramento, espero poder colocar em destaque um novo caminho para nossas pesquisas no Brasil. 


2. INTERLIGAÇÃO DOS SABERES 

Segundo Barbosa (2010, p. 144), “experimenta-se muito pouco na educação do Brasil”, deveríamos nos arriscar mais, tentar mais e, se não der certo, segundo a autora, mudar novamente. Estamos no auge do advento da BNCC que virá mudar nosso contexto escolar. E para compreender os novos direcionamentos apresentados por ela, conseguindo realizá-los, será necessário demandar outros/novos posicionamentos, abordagens metodológicas, outros/novos paradigmas, expansão das fronteiras disciplinares para que sejam gerados outros/novos olhares diante do conhecimento, a percepção das relações do mundo local e global, aproximando o professor de um pensamento mais complexo. 

Diante disto, como relacionar e efetivar a educação integral ancorada no documento da BNCC no contexto escolar? Qual perspectiva de educação integral a BNCC fala? É uma questão que demanda um alto nível de relações e percepções, precisa enxergar o homem em suas multiperspectivas, o contexto e o mundo de forma complexa (MORIN, 2003). Estas questões apresentadas vão direto ao ponto não só da educação integral, mas da Interdisciplinaridade, das Artes Integradas e da BNCC, que são os enfoques do presente artigo.

O ponto principal é: como tratar de forma coerente a relação e diálogos entre conhecimentos, competências e habilidades trabalhando a totalidade do ser, enfatizando, realmente, as várias dimensões humanas conforme a nova realidade (BNCC)? A Base indica e direciona conteúdos e perspectivas de como realizar a abordagem, mas se olhar com cuidado a BNCC propõe algo complexo para nosso contexto escolar. Podendo ocorrer riscos de surgirem equívocos no momento das práticas, servindo apenas um ensino para números e escrita. 

É necessário a interligação dos saberes e buscar o pensamento complexo. Articular os conhecimentos, principalmente, em seus contextos variados, fazendo uso das habilidades e formas criativas de se resolver problemas. Eis uma questão contraditória: como proporcionar uma formação integral, interdisciplinar, relacional, complexa e criativa, numa perspectiva que, na maioria das vezes, enfoca o ensino em apenas uma dimensão do ser humano, o aspecto cognitivo, principalmente, no âmbito racional e escrita, dando o poder máximo a apenas duas disciplinas, português e matemática? Fortalecendo a hierarquização dos saberes, ou seja, o conhecimento que é mais importante que o outro.

Se existe isso, como trabalhar interligado? Se há a hierarquização não há integração. Esta questão se mostra uma problemática vivenciada no contexto escolar, que abrange os campos epistemológico e metodológico e afeta concepções e ações do professor. 


3. INTERDISCIPLINARIDADE E INTEGRAÇÃO 

A interdisciplinaridade é movimento. É alargar fronteiras sendo consciente dos conhecimentos específicos de seu próprio território, sua disciplina. Não se tem um conceito único de interdisciplinaridade. Assim, pretendo defender em minha pesquisa a interdisciplinaridade em duas perspectivas que se relacionam entre si: a primeira, está ligada à questão do paradigma, ou seja, à mudança do pensamento. Se relaciona ao posicionamento diante da fragmentação dos conhecimentos, a mente interliga, buscando uma concepção unitária e relacional sobre os conhecimentos e o mundo. 

Conforme o conceito de Fazenda (2001), sobre interdisciplinaridade que diz que é “uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão” (FAZENDA, 2001, p. 11). Mostra que esta atitude é aquela que substitui a concepção fragmentária para a unitária em relação ao conhecimento. A atitude de olhar o mundo complexo, olhar e se posicionar na complexidade. Assim, é possível considerar uma interdisciplinaridade que está no campo do pensamento, onde a intersubjetividade do indivíduo se altera e muda sua forma de ver e tratar com o mundo. 

A segunda perspectiva de interdisciplinaridade em minha pesquisa, se apresenta como um nível de integração, mas no âmbito metodológico. E neste âmbito pressupõe a ação, a prática do indivíduo, ou seja, sua atuação em processos, aqui destacados, como de ensino aprendizagem, atos pedagógicos e metodológicos. Nestas ações a integração prima por dois tipos de interação: entre os indivíduos envolvidos e os conhecimentos. Segundo Japiassu (1976, p.74), “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa”. A integração trata das conexões e diálogos entre conhecimentos durante a prática, é processo, envolvendo relações entre as pessoas e conhecimentos.

A integração está voltada para os planejamentos, ações e processos, na busca pelo que está ‘entre’, pela complexidade nas relações entre as diferentes áreas. Seja para o estudo de um ou mais objetos, buscando as tramas e os entremeios que se envolvem entre eles. Isto é possível de se fazer porque ocorre nos indivíduos a mudança de paradigma e o entendimento de que no mundo tudo é interligado. Fazendo-os perceber que existem pontos de diálogos entre as áreas, exigindo novos posicionamentos dos atores educacionais, abertura, trocas e relações entre conhecimentos. Quanto mais atores estejam disponíveis para as trocas, mais ricos serão os processos. Embora, uma problemática pode impedir e estancar estes processos de integração é a questão do desejo e interesse, estas estão diretamente ligadas à abertura. Se não há o desejo, a vontade para o conhecimento e para o outro, não há integração. 

Japiassu (1976), diz que é o grau de integração que indicará a profundidade das relações, podendo se caracterizar em maior ou menor grau de conexões. Baseando-se na pesquisa de Faria (2009), é possível constatar os diferentes níveis de integração conforme a profundidade das relações estabelecidas entre os atores e conhecimentos. Foi utilizado para essa análise os princípios para a interdisciplinaridade de Ivani Fazenda (2001), os quais Faria (2009) chamou de subsídios para analisar os níveis de integração de algumas práticas em seus contextos de pesquisa. Realizadas suas análises constatou-se três níveis de integração na prática conforme a presença, maior ou menor, destes subsídios. É importante ressaltar que a autora buscou na nomenclatura existente para realizar esta definição e ser facilitadora no entendimento dos termos e do que envolve nas práticas. 

Assim, constatou-se: a Pluridisciplinaridade, onde as disciplinas trabalham para o bem comum de um objeto de estudo, mas sem relacionar uma com a outra, além disso, seus atores não estão dispostos a trabalhar de forma relacional. Em outra escola verificou-se a Interdisciplinaridade, em que as disciplinas se relacionavam com seus pontos convergentes com um pouco mais de profundidade, seus atores estavam mais abertos ao trabalho com interação.

Foi percebido entre os professores um esforço maior para terem momentos de diálogos, trocas, planejamentos e intercâmbios entre si. Nesta escola, alcançou-se um nível maior de interação, mas as relações entre os educadores ainda tímidas não permitiram o extrapolar das ações; e, na terceira escola pesquisada, encontrou-se a Interdisciplinaridade, se aproximando à Transdisciplinaridade, nível mais elevado de integração, onde as fronteiras entre as disciplinas se encontram livres para o transitar entre as áreas. Foram percebidas nesta escola, que as relações estavam mais amplas, ancorando as ações e relações na criatividade, imaginação, colaboração e conexões expandidas que foram além do convencional. 

A partir dos pressupostos apresentados acima, destaco em minha pesquisa que a interdisciplinaridade pode se encontrar tanto como um nível de integração, como um paradigma, uma mudança do pensamento. Para a abordagem das Artes Integradas as duas formas de interdisciplinaridade estão presentes, observando que, para acontecer esta metodologia, é necessário existir nível maior de entrega tanto nas relações entre conhecimentos, metodologias, como entre os atores educacionais, para que se possa abrir novas propostas, novos conhecimentos e experiências que transcendem o ser, promovendo a transformação dos indivíduos. 


4. ARTES INTEGRADAS – O QUE SÃO? 

Na BNCC, as Artes Integradas são apresentadas como sendo uma unidade temática que “explora as relações e articulações entre as diferentes linguagens e suas práticas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação” (BNCC, 2017, p.197). Existe uma lacuna nesta definição, o conceito, o como realizar e o que está envolvido nessa exploração. Como forma de trazer um conceito, estruturas e parâmetros para uma prática coerente para nosso contexto brasileiro, pretendo levantar questões e reflexões sobre o assunto, visto se tratar de algo tão delicado quando se está no meio de uma prática integrativa. Porquê? Envolve renúncia, envolve entrega, envolve aceitar o outro, envolve se conectar com o que está à volta. Não é algo simples, mas complexo. Meu receio é a simplicidade com que é apresentado algo que não temos o costume de realizar em nosso contexto escolar. 

Para minha surpresa, pude perceber que no Brasil existem poucas pesquisas com o tema das Artes Integradas. É importante observar que, ao se realizar uma busca sobre o tema na internet, poderão ser encontradas algumas ações e lugares que trabalham com as Artes Integradas. Por meio de um olhar mais atento sobre os lugares e os processos desenvolvidos, pode-se perceber dois pontos importantes: 1) a maioria dos lugares não são escolas, são espaços especializados em arte, como centros artísticos e 2) são poucos os lugares que trabalham com processos realmente integrativos. Outro ponto importante a destacar, é que, no Brasil, não temos muito o hábito de realizar pesquisas com o viés das Artes Integradas dentro dos processos pedagógicos em escolas de ensino regulares em nosso país.

Não temos muito hábito também, de trabalhar integrado, ou seja, a partir de um grupo em parceria, com trocas e diálogos. Embora existam nas escolas vários trabalhos considerados interdisciplinares, em que os professores desenvolvem ações a partir de um mesmo tema na escola, mas cada um trabalha em sua área, fazendo um ajuntamento depois no momento final do processo. São poucas vezes que conseguimos perceber algo ‘tecido junto’, emaranhado, entremeado, tanto por parte das disciplinas, como dos próprios professores. 

Diante disso, pretendo trazer a reflexão sobre a proposta da BNCC de trabalhar interdisciplinarmente relacionando as áreas entre si. Será um processo de difícil caminhada, se os professores e escolas não estiverem abertos para novas possibilidades, conceitos e mudança de paradigma podem ocorrer processos dolorosos e desgastantes para todos. Além da interdisciplinaridade, foram apresentadas no documento oficial as Artes Integradas como unidade temática do componente Arte.

O que isto significa? É uma linguagem? Economia de professores? É uma possibilidade artística? Não há definição. No Brasil, não existem definições oficiais do que sejam as Artes Integradas, embora exista a pesquisa de Faria (2009), que a conceitua. Como será que elas serão desenvolvidas no contexto escolar? 

Assim, busco apresentar uma definição do que as Artes Integradas sejam. E para defini-las, vou começar dizendo o que não são Artes Integradas. Elas não são apenas um cruzamento entre as linguagens artísticas em um mesmo evento, performance ou apresentação. Elas não são uma ação polivalente, realizada por uma pessoa, que tenta trabalhar as linguagens artísticas em uma aula ou evento. Elas não são um fim, um espetáculo integrado, por exemplo, mas seu maior destaque é o processo, ou seja, a construção nas relações estabelecidas com os conhecimentos, experiências e relações entre as pessoas. 

Nos Estados Unidos, há um forte estudo e pesquisa sobre a temática, atualmente, eles tentam reorganizar a educação com a ênfase da arte no currículo, trabalhando com as Artes Integradas, com a troca do STEM ( vem do termo em inglês que une os conceitos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática) por STEAM (vem do termo em inglês que une os conceitos de ciências, tecnologia, engenharia, Arte e matemática).

A ênfase é uma educação que trabalhe a criatividade, a invenção e, principalmente, a colaboração, destacando um ensino que passe pelos sentidos, todo o corpo é aprendente. É uma metodologia que tem o viés multidisciplinar e interdisciplinar e, a maioria, é baseada por projetos, que tem o intuito de formar pessoas integrando diversos conhecimentos, preparando os sujeitos criativos e capacitados para o mundo do futuro. As Artes Integradas são muito apreciadas neste país, segundo seus pesquisadores, não existe apenas um conceito para definir a temática, mas vários. Apesar disto, há uma concordância entre eles sobre um fio condutor que mostra as artes como integradora entres as áreas, sendo que o ponto importante é que seja garantida a equidade entre as disciplinas, ou seja, todas têm a mesma importância (BURNAFORD, 2007). 

Diante disso, quero apresentar algumas definições encontradas em algumas pesquisas realizadas. Dentre elas, encontrei a do centro de arte Kennedy Center em Washington, DC, nos EUA. Este centro é referência no país americano e oferta cursos, materiais e orientações sobre a temática da integração. Sua definição de Artes Integradas tem sido utilizada em diversos locais que trabalham o ensino de artes, além de orientações sobre o ensino de arte para escolas seculares. Segundo a Kennedy Center, as Artes Integradas são, 

As Artes Integradas são uma abordagem de ensino em que os alunos constroem e demonstram compreensão através de uma forma artística. Os alunos se envolvem em processos criativos, em que conectam uma modalidade artística e uma disciplina de outra área, observando os objetivos e a evolução em ambos (KENNEDY CENTER, online, Tradução nossa)1. 

1 Arts Integration is an approach to teaching inwhich students constructo and demonstrate understanding through na art form. Studens engage ina creative process which connects na art form and another subject área and meets evolving objectives in both (KENNEDY CENTER, online). 

2 Arts integration provides multiple ways for students to make sense of what they learn (construct understanding) and make their learning visible (demonstrate understanding). It goes beyond the initial step of helping students learn and recall information to challenging students to take the information and facts they have learned and do something with them to build deeper understanding (SILVERSTEIN & LAYNE, 2010, p. 3). 

É importante observar que nesta definição as Artes Integradas são uma abordagem de ensino (metodologia) e promove o protagonismo dos estudantes, quando ressalta que os alunos constroem e demonstram sua compreensão de seu aprendizado por meio de formas artísticas. Outro ponto importante é a questão da equidade entre as disciplinas, não existe hierarquia, nenhuma disciplina trabalha para a outra. É importante entender que isso valoriza o conhecimento e a importância de ambas, além de enriquecer o processo. 

Outra definição, segundo LaJevic (2013), as Artes Integradas são um termo complicado e complexo sem um significado universal. A autora explora a Integração das Artes como um processo dinâmico de fusão da arte com outra ou outras disciplinas na tentativa de abrir um espaço de inclusão no ensino-aprendizagem e experiências. A autora cita um exemplo, em que os alunos tem a possibilidade de criação e / ou discussão de obras de arte que não apenas ensinam sobre arte, mas também sobre ciência, matemática ou outros assuntos.

É importante destacar que as Artes Integradas reconhecem o currículo educacional como um todo e que elas não dividem o currículo em partes distintas, como blocos de conhecimento, como ciência, arte, etc. Ainda, para a autora, existe uma ênfase nas qualidades sobrepostas rizomáticas (Deleuze e Guattari) entre sujeitos e conteúdos que se concentram nas habilidades das artes de ensinar através do currículo e transcender os limites dos assuntos escolares. 

Destaco também a definição de Silverstein, L. & Layne, S. (2010), elas também compreendem que as Artes Integradas são uma abordagem metodológica, 

As Artes Integradas proporcionam várias possibilidades para que os alunos entendam o que aprendem (construir compreensão) e a tornar visível o aprendizado (demonstrar compreensão). Elas vão além da etapa inicial da simples ajuda para aprender e lembrar as informações e conhecimentos. Elas desafiam os alunos a pegar as informações e os fatos que aprenderam e fazer algo com eles, construindo um entendimento mais profundo (SILVERSTEIN & LAYNE, 2010, p. 3, Tradução Nossa)2. 

Ou seja, o aluno produz em sua aprendizagem, ele se torna capaz de sintetizar seus conhecimentos produzindo algo. Isto auxilia o professor na avaliação e na aferição se o aluno compreendeu, de fato, todo o processo realizado. Tornar a aprendizagem visível por meio de uma forma de arte traz para o aluno uma valorização de si e de sua formação. 

Quero destacar outra definição, que origina de um guia de usuário para as escolas de New Jersey, USA, sobre as Artes Integradas. Este guia é bem interessante, pois define e mostra as diferenças entre as integrações existentes entre as artes e as outras disciplinas. Quanto às Artes Integradas, 

As Artes Integradas são uma prática de ensino interdisciplinar, por meio do qual o conteúdo não artístico e artístico é ensinado e avaliado de forma equitativa para aprofundar a compreensão de ambos (YOUNG AUDIENCES, 2017, p. 5, Tradução nossa)3. 

Ressalto, que as Artes Integradas são postas como uma abordagem metodológica. Uma prática que pressupõe a atitude interdisciplinar dos professores envolvidos, bem como da relação entre áreas de conhecimentos, que se apresenta, mais uma vez pela equidade, ou seja, a valorização das disciplinas de forma não hierárquica. 

No Brasil, é possível encontrar na pesquisa de Faria (2009) a conceituação das Artes Integradas. Como disse, são poucas as pesquisas que tratam da temática e esta privilegia uma análise entre o nível de relações dos professores pesquisados e as relações estabelecidas entre as áreas de conhecimentos nas escolas pesquisadas, mostrando que existem diferentes níveis de integração. O que afeta completamente a forma como se aprende, como se ensina, quais conhecimentos são elencados e como se dá as relações entre indivíduos e as metodologias. A integração real é aquela que transcende, que promove no aluno uma expansão de sua consciência sobre si e o mundo. As Artes Integradas segundo Faria (2009), 

(...) destacamos as Artes Integradas, como sendo uma metodologia que inter-relaciona as várias linguagens artísticas buscando desenvolver diálogos entre elas e diferentes conhecimentos (história, geografia, outros), contextualizando e permitindo que o indivíduo alcance um conhecimento abrangente (FARIA, 2009, p.12). 

As Artes Integradas são uma metodologia e não podem ser consideradas como uma linguagem ou unidade temática, como foi posta na BNCC. Isto é problemático, pois abre caminho para equívocos como a polivalência, ou seja, um professor trabalhando todas as áreas sozinho, pode cair na superficialidade das áreas, promovendo uma desvalorização das mesmas. Não que não seja possível um só professor relacionar outras áreas de conhecimento ao seu, mas é importante notar que não existirá equidade, sendo privilegiado sempre a área de domínio deste professor. Além disso, como citei anteriormente, buscar relações interdisciplinares com outras áreas está num nível paradigmático.

Eu posso, em minha prática, relacionar outros conhecimentos no auxílio para o entendimento de minha área, mas não chega a ser integração. Sobre essas diferenças tratarei em minha tese e espero muito conseguir contribuir sobre o assunto. Para se trabalhar integrado é necessário parcerias, a consciência do outro e da área do outro. Para isso, diálogos e planejamentos em conjunto são necessários. 

Diante de tantos conceitos é importante ter cautela na construção e embasamento em meu trabalho. Não pretendo me basear em apenas um conceito, mas em vários para tentar encontrar um caminho para nossa realidade. A escola que se apresenta em múltiplas realidades pode encontrar no processo das Artes Integradas uma reestruturação do que realmente seja uma educação integral. As Artes Integradas podem ser o elo de integração e interdisciplinaridade entre a BNCC e a escola, mas existe um trajeto a ser realizado de mudanças de paradigmas e de atitudes. 


5. CONCLUSÃO 

Diante dos pressupostos apresentados, concluo que é necessário cautela quanto a interpretação das Artes Integradas apresentadas na BNCC. Elas são uma abordagem metodológica e não, uma unidade temática, elas não podem definir um arranjo de conhecimento, pois estes não estão postos, são construídos no processo de integração entre os professores e áreas. As Artes Integradas relacionam as áreas de conhecimentos utilizando a arte no entremeio das conexões, necessitando de um professor de cada área para poder dialogar e trabalhar de forma coesa a prática pedagógica. Para que sejam efetivadas como metodologia é necessário professores capacitados, que tenham o conhecimento do paradigma pensamento complexo e da interdisciplinaridade, sendo importante o estar aberto para o processo. 

Se assim não for, a educação integral ficará comprometida e não será trabalhado a multidimensionalidade do ser, corpo e sentidos. A ênfase continuará na hierarquia das disciplinas e das metodologias fatídicas que só enfatizam somente um aspecto e duas formas de expressar o conhecimento – o cálculo e a escrita. 


6. REFERÊNCIAS 

BARBOSA, Ana Mae. Da interdisciplinaridade à interterritorialidade: caminhos ainda incertos. 

Paidéia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum., Soc. e da Saú., Univ. Fumec Belo 

Horizonte Ano 7 n. 9 p. 11-29 jul./dez. 2010. 

BURNAFORD, Gail, et al. Arts Integration Frameworks, Research Practice: A Literature 

Review. Arts Education Partinership. 2007. 

FAZENDA, Ivani C. A (org). Dicionário em construção: Interdisciplinaridade. São Paulo: 

Cortez, 2001. 

FARIA, Aline Folly. Artes Integradas: características das práticas desenvolvidas em escolas 

de Goiânia. Goiânia, 2009. 177f. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de 

Música e Artes Cênicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009. 

GOIÁS, Estado de. Base Nacional Curricular Comum - Documento Curricular para Goiás – 

DC - GO. Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte – SEDUCE, 2017. 

JAPIASSÚ, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro, Imago, 1976. 

KENNEDY CENTER. Kennedy Center for the Performing Arts. Disponível em: 

Integration>. Acesso em: 20-04-2019 

LAJEVIC, Lisa. Arts Integration: What is Really Happening in the Elementary Classroom? 

Journal for Learning through the Arts, 9(1), 2013. Disponível em: 

https://escholarship.org/uc/item/9qt3n8xt Acesso em 20-03-2019. 

MORIN, Edgar, et al. Educar na era planetária. São Paulo: Cortez, 2003. 

Silverstein, L. & Layne, S. (2010). Defining arts integration. Disponível em: 

http://www.kennedy-center.org/education/partners/defining_arts_integration.pdf Acesso 

em 20-03-2019. 

YOUNG AUDIENCES. Arts Integration User Guide for New Jersey Educators and 

Practitioners. Published in July 2017. Disponível em: 

Acesso em: 25-03-2019.